Por Duke London
A água é muito além da medida. Sua imensa força pode nos afastar ou nos puxar para dentro dela. Ela pode nos destruir ou trazer vida nova. Enquanto a água é uma das substâncias mais abundantes em nossos corpos e em nosso planeta, ainda lutamos para compreender completamente a amplitude do seu poder. Mas alguns fazem um trabalho incrível em aproveitar o vasto poder da água e proteger nosso recurso mais vital.
Enquanto eu me preparava para escrever essa história sobre o cantor do Incubus e criativo extraordinário Brandon Boyd, ficou evidente que a água desempenha um papel enorme na sua vida. Ao crescer surfando no sul da Califórnia, não é difícil imaginar como alguém poderia desenvolver um amor e respeito tão profundo pela água, e isso transparece em tudo que Boyd cria. Sempre foi um tema sutil e recorrente em sua música, tanto com o Incubus quanto em projetos paralelos como sua banda, Sons of the Sea. Esse também tem sido um foco dos esforços de caridade de Boyd, já que sua campanha ‘Water is Life’ (Água é Vida) há alguns anos levantou dezenas de milhares de dólares para apoiar as tribos indígenas dos EUA em seu impasse contra os construtores do Dakota Access Pipeline.
Por muitos anos, o compositor residiu o mais próximo possível do Oceano Pacífico, morando perto da praia de Venice, mas retornou ao lugar de onde veio, perto das montanhas de Santa Mônica.
“Eu morei em Venice Beach por um longo tempo, mas voltei para cá cerca de três anos atrás. Eu cresci por aqui”, diz Boyd em casa, que parece ser super serena, completa com um enorme yurt (tenda) de arte. Eu tive que pesquisar no Google, também, não se envergonhe. “Venice me abraçou por muito tempo, mas eu sabia que ia acabar nessa parte de Los Angeles. Demorou muito tempo.”
Quando perguntei o que levou a esse movimento de ir para longe do oceano e de volta para onde estavam suas raízes, eu já sabia a resposta. Humanos estragam tudo.
“Poder ir andando a pé ou de bicicleta pegar ondas todas as manhãs era definitivamente parte do fascínio", disse ele sobre Venice. "Essa é uma das coisas que eu sinto falta de morar lá embaixo, mas a troca foi bastante significativa, sobra um pouco de espaço para respirar e não ter pessoas em cima de você, literalmente, o tempo todo."
“Tinha algo sobre trocar a guarda”, Brandon me diz. “Muitos dos meus amigos que haviam estabelecido Venice como parte de sua comunidade começaram a sair de lá, assim que o Google e o Snapchat mudaram pra lá, isso definitivamente mudou drasticamente a energia lá embaixo. No começo, foi devagar. Então teve um momento em que senti que mudava durante a noite. Eu saí da minha casa e perguntei: "onde é que a minha vizinhança foi?" [Risos] Eu não tenho ressentimentos nem nada. Eu sou a primeira pessoa a dizer às pessoas que a única constante é a mudança. Temos que estar dispostos a aceitar mudanças como essa e tenho sorte de poder encontrar uma janela de oportunidade. Eu encontrei o meu lugar e voltei ao circulo completo de onde eu comecei.”
Mas um pouco de distância não enfraqueceu o vínculo que Boyd compartilha com a água. De qualquer forma, isso o tornou mais criativo em como ele incorpora esse recurso precioso em sua vida, e os resultados são realmente impressionantes. Enquanto a arte sempre fez parte da vida do cantor, seu trabalho recentemente encontrou uma nova corrente fluente. Boyd vem pintando há anos, expondo em galerias ao redor do mundo e publicando vários livros com sua arte, mas seus trabalhos em aquarela, em particular, atingiram um ponto forte e mistificaram aqueles que apreciam suas pinceladas abstratas. No mês passado, Boyd lançou um jogo de memória que apresentam uma série de suas aquarelas chamadas ‘Deux Portes / Two Doors: An OptiMystic Memory Game’. Como nos jogos de memória antigos, os jogadores combinam conjuntos de imagens, que neste caso são as aquarelas de Boyd, rotuladas com uma ampla variedade de sinônimos para portas.
DUKE LONDON: Encontrar sua janela de oportunidade para deixar a lotada Venice, para a reclusão das montanhas me leva à minha primeira pergunta, sobre portas se abrindo e fechando. Seu jogo é baseado em portas e portais, estou imaginando se você vê essas portas como uma fuga de algo ou a oportunidade de experimentar algo novo?
BRANDON BOYD: Definitivamente não é sobre fugir. Se é alguma coisa, é mais sobre a chegada. Há algo no sentido literal sobre as portas que são evocativas para mim, mas também há algo na metáfora mais profunda das portas que sempre foram intelectualmente tentadoras. Eu os vejo como oportunidades, então comecei a fazer essas pequenas pinturas. Eu fazia algumas todos os dias enquanto estávamos em turnê. Quando você está em turnê, é como se fossem longos períodos de espera e antecipação, depois isso é interrompido por rajadas de uma atmosfera intensa e muita energia e, em seguida, longos períodos de espera novamente. Há muitas maneiras de preencher esse espaço entre os shows. Todo mundo tem o seu próprio jeito de fazer isso, mas anos atrás eu achei que a pintura era uma maneira muito legal de passar esse tempo. Ela permite que a meditação aconteça em uma atmosfera de outra forma caótica. Comecei a fazer essas pinturas e as vi como pequenas portas ou portais para outro mundo. E cada uma delas era um pouco diferente, mas semelhante uma ao lado da outra. Existem talvez 100 delas no total. Eu escolhi as minhas 36 favoritas ou mais e estava meio que fazendo um jogo com elas que eu costumava jogar quando eu era uma criança, chamado memória, onde você combina um frango com um frango e um sapo com um sapo. Eu estava tentando refinar essa ideia e usar esses portais, então você encontra as duas portas que combinam entre si, teoricamente abrindo um portal maior na memória.
Eu li sobre um outro jogo que você falou que inspirou o seu, Estratégias Oblíquas de Brian Eno. Eu achava que ambos eram interessantes do ponto de vista de usar jogos como exercícios mentais. Como esses jogos ajudam você de maneira criativa?
Eu conheci o Oblique Strategies através de um amigo meu que é músico, um produtor chamado Dave Sardy. Eu trabalhei com ele em músicas para o Incubus e trabalhos solo por alguns anos e ele tinha um original em seu estúdio na mesa de som. Sabe, estamos ali ouvindo e girando botões e meus olhos foram para essa caixa preta. Eu abri e lá estavam esses cartões e eu comecei a perguntar a Dave, “que diabos é isso?” [Risos]. Ele me explicou que era um projeto de Brian Eno e Peter Schmidt, e você tira um cartão se está se sentindo parado criativamente e não sabe para onde ir. A carta que você puxa é quase aleatória, mas tem a possibilidade de levá-lo para uma direção inesperada. Ocasionalmente, você está fazendo algo para estar preso, mas se você apresentar uma variável caótica, tem o potencial para vagar em um território desconhecido, o que é realmente empolgante. Não sei se é isso que eles tinham em mente quando criaram, mas achei muito inspirador que eles tivessem feito isso. Tem um aplicativo que você pode baixar agora, mas a ideia de ter um jogo de cartas táctil parece tão contra-intuitivo hoje, para onde nossa cultura foi parar.
Existe toda uma cultura de videogames e tecnologia, telas, tablets e deslize de tela. Você teria que viver embaixo de uma rocha para não perceber isso. Do garoto mais novo à pessoa mais velha, os rostos de todos estão enterrados em suas telas. Podemos falar sobre o que é bom, ou ruim, ou o que isso faz para a gente em uma conversa totalmente diferente, mas eu achei que havia uma oportunidade de apresentar um contraponto a isso com algo que não envolvesse tecnologia. É tão antigo que é quase moderno de novo. Imagine a idéia de espalhar cartões com alguns amigos e tentar lembrar onde cada cartão é colocado. E então eles se baseiam nesses ideais de mentalidade mais elevada de romper as portas perceptivas.
É legal poder reunir as pessoas e fazer as pessoas falarem provavelmente nem sobre o jogo, mas sobre outras coisas periféricas.
É exatamente isso o que venho fazendo na minha vida. Eu tenho brincado com amigos e entes queridos e, no começo, eles estão me favorecendo. "Ei, jogue este jogo comigo que eu fiz" e eles ficam tipo “ah ok tanto faz” e então o que acontece é exatamente o que você acabou de dizer. No começo, eles ficam tipo: “ egal. Você pintou isso? Legal.” E então, rapidamente, inicia uma conversa que não teria existido, caso você não tivesse sentado com a pessoa para jogar. É engraçado, porque todos os seres humanos precisam se manter envolvidos com essa atividade periférica, que não tem a ver com algo com um sentido tecnológico mais amplo, como cartões. Algo bonito acontece e esse tipo de cooperação é por que somos tão diferentes dos outros animais. Eu sinto que é algo que as pessoas precisam ser lembradas ou “lembrar” se eu pudesse ser brega por um momento. [Risos]
Não é diferente de suas composições de várias formas. A música hoje se tornou muito mais literal em suas composições, narrativas muito viscerais. Parecem ir direto ao ponto, enquanto as suas são e foram mais abstratas por natureza e permitem mais interpretações. Como sua arte é semelhante à sua composição?
Eu sempre fui fascinado por palavras e a capacidade de serem manipuladas arranjadas e massageadas de formas que podem evocar emoção e memórias, ocasionalmente raiva, ocasionalmente fogo. É uma coisa fascinante, porque quando você as divide em seu sentido mais rudimentar ou literal, elas são apenas um conglomerado de sons que todos nós concordamos que coletivamente significava algo. Estamos apenas juntando sons que estamos fazendo de nossas bocas e, de alguma forma, podemos transmitir coisas que, de outra forma, seriam intransmissíveis. Podemos deduzir coisas incríveis sobre a nossa história, uns aos outros, e ao nosso futuro através da manipulação desses diferentes sons. Elas criam uma camada inteira de complexidade e uma potencial abstração que é capaz de fazer completamente outra coisa. Você pode tocar em uma emoção de alguém que ela nem percebeu que estava lá, ou uma memória arquivada em algum lugar, e é uma oportunidade incrível de se comunicar uns com os outros em um nível mais alto.
Algo que é capaz de fazer transcender realmente uma conversa básica. Uma conversa muito poderosa por si só, mas a música é toda essa outra coisa. Eu já vi shows em diferentes lugares do mundo, onde certas bandas quase se tornaram uma religião para o público. É realmente incrível. Incubus abriu para o Metallica algumas vezes na América do Sul ou alguns lugares na Europa e é insano. Quando o Metallica entra no palco na América do Sul, é como se você estivesse assistindo a um ritual religioso acontecendo. É muito doido. Porque algumas pessoas pensam: “sim, o Metallica é insano, nós bebemos cerveja e agitamos”, mas outras pessoas pensam: “sim, nós fazemos isso, mas também nos conectamos de uma forma que não fazia ideia que era possível”. E isso realmente me inspira, me excita. Eu acho que é provavelmente por isso que eu ainda faço música. É sempre confuso para mim e é divertido, mas o potencial dela se revela cada vez mais ilimitado quanto mais tempo eu faço. Eu sempre digo que é tão desafiador como sempre foi, mas depois eu acho que vejo de uma forma maior quanto mais velho eu fico.
Para alguém que já viu muito do mundo, que portas você ainda está tentando atravessar, para onde você ainda quer ir?
Existem duas respostas para essa pergunta.
Eu estou sempre procurando por novas portas em um plano mais alto, eu acho. Há muitas maneiras de se chegar lá, desde doutrinas espirituais muito antigas, meditação em transe, etc, mas também temos certas ferramentas disponíveis que a natureza nos oferece aqui. Essas são portas potenciais para um mundo que existe simultaneamente ao nosso, mas nós não vemos diariamente. Isso é definitivamente um pouco mais perigoso, dependendo de quem você é, onde está e o que está ingerindo. Por isso, sempre incentivo uma grande reverência por algumas dessas ferramentas, e talvez até mesmo cautela para algumas pessoas.
Em um nível mais terrestre, nunca estive em Vermont.
Eu não estava esperando por Vermont. [Risos]
Nós tocamos em todo o mundo. Quer dizer, nós tocamos em lugares que achei que nunca iríamos visitar. Mas nunca tocamos em Vermont. Eu nem sei porque, então um dia eu vou lá e vou à caça de maple syrup.
Estou em Los Angeles há cerca de quatro anos, mas na verdade vivi em Vermont um pouquinho uma época. Eu posso garantir, vale a pena uma visita.
Sem chance! Eu definitivamente irei qualquer desses dias.
Estamos nos aproximando do 20º aniversário do 'Make Yourself', o que parece muito louco. Olhando para trás, o que esse álbum significa para você agora?
É muito louco esse disco ter 20 anos. Já é quase velho o suficiente para beber, é incrível. Nós estivemos recentemente ensaiando para os próximos shows e estamos tirando as músicas do álbum que não tocamos há alguns anos. Definitivamente tem puxando algumas memórias antigas de quando nós as escrevemos no final dos anos 90 e início dos anos 2000. Basta falar rapidamente sobre o poder da música antiga de trazer memórias antigas, e te levar de volta para exatamente onde você estava quando ouviu pela primeira vez - ou, no nosso caso, o fez. Eu acho que tinha 22 anos, completando 23 anos quando escrevemos esse álbum, e é uma fase muito interessante na vida de qualquer pessoa porque é divertido, é emocionante, mas também é realmente caótico e estranho. Há muitas dores de crescimento acontecendo, então muitas das músicas desse álbum lidam com coisas assim para mim.
Nós estávamos saindo em turnê pela primeira vez de verdade, estando em uma turnê internacional. Nós fizemos turnê alguns anos antes do 'S.C.I.E.N.C.E.' mas tudo ficou mais intenso em torno do 'Make Yourself'. Existem algumas ansiedades antigas que ainda permanecem nessas músicas e quando as tocamos no estúdio de ensaios, é uma loucura sentir essas ansiedades há muito tempo esquecidas tocando apenas uma música.
É interessante voltar a isso, mas na maior parte, é realmente uma alegria incrível poder dizer que temos um álbum de 20 anos e as pessoas ainda gostam dele. E ainda gostamos de tocar essas músicas. Temos outras músicas mais antigas que começaremos a tocar e, depois de 40 segundos, ficamos meio que "eh, não". [Risos] Mas 'Make Yourself', por si só, é divertido.
Você acha que ele envelheceu bem musicalmente e do ponto de vista temático? Alguma das músicas tem um significado diferente para você agora? “The Warmth”, “Out From Under”, e a faixa-título, tudo bateu um pouco diferente no meio do capitalismo de estágio final e algumas das coisas que vimos aconteceram nos anos desde que foi lançado.
Com certeza, embora eu não saiba que eu ofereceria isso sozinho. Seria um pouco auto-indulgente como compositor dizer esse tipo de coisa, mas eu aprecio quando as pessoas são capazes de apreciar o que é tecnicamente uma música antiga - por mais difícil que seja para mim dizer isso [risos] - de uma forma mais contemporânea. Eu acho que o que isso me mostra, é que certos fenômenos culturais e políticos têm uma qualidade cíclica para isso e algumas das idéias que estavam saindo da gente naquela época - e mais tarde, músicas como “Megalomaniac” - foram escritas durante um tempo que, ao menos politicamente, parecia que as coisas não poderiam piorar.
E então, oh meu Deus, nós vimos o fundo do poço agora. As coisas pareciam melhorar culturalmente durante a maior parte desses dez anos. Nada era perfeito, obviamente, mas havia pelo menos uma sensação de esperança. Então, algumas dessas idéias parecem ressurgir novamente. No entanto, acho que esse é realmente um dos pontos da música, se houver um ponto para a música, que ela tenha essa capacidade de nos lembrar algumas das coisas que achamos importantes ao mesmo tempo.
Nosso "Sick Sad Little World".
Sim. É interessante, às vezes o jeito que as músicas são escritas, especialmente do ponto de vista lírico, eu nem sei o que estou escrevendo na maioria das vezes até depois do fato. Então é engraçado. Assim como você provavelmente se identifica como um escritor, às vezes você entra em um estado de fluxo em que as coisas começam a sair de você e você nem mesmo se pergunta de onde elas vêm. E então você olha para trás, dias ou mesmo anos depois, e fica tipo, “oh wow, agora eu entendi”. Você vai entender o subtexto do que você estava falando mais tarde e faz mais sentido em retrospecto.
Para alguns músicos, a obra de arte é apenas uma obra de arte. Mas para o Incubus, sempre pareceu que a direção de arte era uma grande parte do processo, um tema recorrente em toda a música, nos vídeos e no produto físico. Qual papel você desempenhou na arte dos álbuns do Incubus ao longo dos anos e o que gerou sua arte pessoal?
Eu pinto e desenho desde criança, desde antes de me lembrar, honestamente. Minhas primeiras memórias são rabiscando com giz de cera. A arte oferece algo realmente difícil de descrever para mim. Existem muitos artistas no mundo e qualquer um deles em qualquer area provavelmente lhe dirá que a razão pela qual eles continuam fazendo arte, é que eles gostam disso - eles realmente não sabem o porquê. Eu apenas tenho que fazer. Isso é algo que sempre permeou minha experiência. Comecei a entrar em contato com a música quando era adolescente e comecei a ir a shows em Los Angeles no final dos anos 80 e início dos anos 90 e vi muitas bandas incríveis.
Foi incrivelmente inspirador e um período muito denso de música, especialmente rock. Eu sabia que queria estar em uma banda naquele momento e parecia arte, mas de uma forma diferente. Parecia que eu estava usando um tipo diferente de pincel. Os dois caminhos já existiram simultaneamente por quase toda a minha experiência.
Conheço o nosso baterista José Pasillas por toda a minha vida e ele também é artista, sempre nos relacionamos com arte, surfe e skate. No que diz respeito à arte do álbum e ao visual de nossa banda, ele e eu trabalhamos em grande parte na estética de nossa banda desde o começo, seja nas capas dos álbuns ou em camisetas. Esta banda é muito envolvida em cada coisa que nossos ouvintes viram ao longo dos anos, para melhor ou para pior. Nós definitivamente tivemos alguns erros, talvez até mais erros do que sucessos naquele departamento [risos], mas fizemos alguns vídeos muito legais ao longo do caminho, bem como algumas capas de álbuns muito legais.
Uma das minhas capas de álbuns favoritas são aquelas que não criamos, mas que foram feitas por outros artistas. Nosso disco Light Grenades foi feito por um artista chamado Alan Aldridge, que ficou famoso por suas capas de álbuns e trabalhos de arte para os Beatles e Elton John e outros artistas incríveis. Nos tornamos amigos dele e eu pedi a ele para projetar a capa do álbum e ele disse: “Claro, eu adoraria. Como é o álbum?” Eu tive que dizer a ele que ainda não tínhamos terminado de gravar, mas eu dei a ele todas as letras do álbum e esperei que ele pudesse construir algo baseado apenas nas letras. Esse cara não ouviu nenhuma das 13 músicas e fez o que se tornou uma das obras de arte do Incubus mais reconhecíveis. Muita gente tem a impressão de que eu que fiz, mas eu apenas apontei um artista realmente incrível em uma direção e ele foi adiante. É tão legal. Você pode ver a obra de arte e todos os seus esboços que levaram à arte final em um livro que ele publicou antes de morrer, chamado The Man With Kaleidoscope Eyes. Muito incrível.
Eu lembro que vocês também fizeram um concurso com os fãs para criar o videoclipe oficial do single "Dig". É interessante, considerando o quão envolvidos vocês estavam na direção artística da banda, que você deixou muito disso para artistas de fora o álbum Light Grenades.
Hmm, eu amo a ideia disso. Eu sou uma artista, mas também adoro a ideia de encorajar as pessoas a participarem se estiverem interessadas. Nós recebemos tantas inscrições para o concurso de “Dig”, que foi quase impossível escolher um “vencedor”. Finalmente encontramos um punhado de boas ideias e discutimos e consideramos sobre qual era o melhor e tinham algumas complicações com nossa gravadora na época, então havia um vencedor nos EUA, um vencedor no exterior, etc. O que mais me impressionou, porém, foi um em que o artista pegou os desenhos de Alan Aldridge e os animou. Espero que seja o que as pessoas veem e associem à nossa música.
O que te atrai na aquarela, na sua própria arte?
É meio que meu meio favorito nos últimos sete ou oito anos. Eu também trabalho com outras coisas, mas a aquarela é uma das mais desafiadoras, e é provavelmente por isso que eu fico em torno dela. Eu sinto uma vontade irresistível de dominá-la, mas não sei se isso é possível. Eu vi o trabalho de pessoas que eu considero mestres de aquarela e até mesmo essas pessoas dirão a você que elas não dominaram isso. É tão caótico e difícil de controlar que as pessoas desistem ou estão sempre decididas a fazer sentido. Eu faço um monte de trabalho figurativo em aquarela e misturo com trabalhos de linhas abstratas e coisas assim, mas a série de pinturas ‘Portals’ foi o começo da minha tentativa de dar sentido ao caos da aquarela. Eu apenas derramava e jogava as cores aleatoriamente e deixava secar, tentando encontrar imagens em vários estágios de secagem. É como quando você deita em uma colina e vê imagens nas nuvens.
Eu li que o yurt (tenda) em sua casa, que você usa como um estúdio de arte, é a maior área em que você já pintou. Com você no chão pintando em telas grandes, como seus cães brincam na direção de arte do seu trabalho?
Eles estão sempre presentes. Elas são minhas sombras, eu os chamo de minhas pequenas sombras demoníacas o tempo todo. [Risos] Houve um período de tempo em que eu estava tentando mantê-los longe das pinturas por causa da potencial confusão. Meu cachorro mais velho, Bruce, sempre foi cuidadoso com pinturas na maior parte do tempo. Eu não sei porque, mas ele mantém distância delas. De vez em quando, ele se arrasta para uma das minhas pinturas, porque ele só usa duas de suas pernas nessa fase da sua vida. Meu cachorro mais novo, Billy, tem cerca de um ano, um tipo de vira-lata chihuahua-pug, ela não dá a mínima. Ela simplesmente passeia e pisa na tinta molhada e, em seguida, anda ao redor, então um monte das pinturas que fiz nos últimos seis meses tem pegadas de cachorros saindo delas. No começo, eu falei “Nãooo”, mas depois percebi que é bem legal. O verdadeiro artista falou.
Quão mais suave é uma turnê para o lançamento de um jogo de memória e pinturas do que uma turnê do Incubus?
[Risos] É muito mais suave só porque a arte parece um mundo mais isolado, mesmo que seja um mundo enorme e não haja limites sobre quem pode participar. Eu acho que não são tantas pessoas que estão tão interessadas em falar sobre pintura quanto em música. Eu ficaria muito feliz se a pintura se tornasse o novo rock and roll, mas duvido que isso aconteça. A arte é muito mais aberta à interpretação e a música é altamente aberta à interpretação. É um mundo cheio de pessoas comicamente intelectuais que ficam na frente das pinturas e as “interpretam” e eu adoro isso. Em algumas ocasiões eu fico pensando: “ Ok, sim, eu posso ver como isso é todo aquele monte de palavras gigantescas que você esmagou juntas”, mas com mais frequência eu penso: “Esse é um lindo tom de rosa que o artista usou” e sigo em frente.
Embora essa entrevista não seja divulgada até mais tarde, estamos conversando no Dia da Terra, por isso é certo discutirmos a Mãe Natureza. Você tem sido sincero ao longo dos anos sobre a conservação dos oceanos e o problema com o plástico. Quanto pior ficou e quais são alguns passos positivos que você vê sendo tomados hoje?
Isso definitivamente piorou. E suponho que sempre soubéssemos que isso aconteceria. Até existir uma vontade política em fazer algo em relação as principais questões ambientais, nada vai acontecer em grande escala. Mas o interessante é que os movimentos populares se formaram além das bases. Em um certo ponto, não precisaremos da vontade política para instituir a mudança, um número suficiente de pessoas começará a assumir a responsabilidade por sua própria emissão de carbono e se tornará a lei da terra por si só, em vez de ser mandatada pelo poder político. Embora isso ajude, acho que não vamos receber essa ajuda tão cedo. Quando as pessoas tiverem informações boas e confiáveis, estarão mais aptas a fazer mudanças duradouras em suas vidas. Você obtém boas informações nas mãos das pessoas e coisas boas acontecem.
Eu gosto de encorajar as pessoas a se afastarem do vício do plástico descartável. Eu gosto de encorajar as pessoas a estarem conscientes da sua emissão de carbono, tanto quanto possível. Tenho que me lembrar constantemente porque vivemos em uma cultura que está desesperadamente tentando nos fazer avançar mais rapidamente e esquecer o impacto que causamos. Com oito bilhões de pessoas ou quantos de nós existem no planeta, isso é completamente insustentável. Tudo o que podemos fazer para nos lembrarmos de que deixamos uma marca é importante. Somos um animal único na medida em que estamos constantemente a remodelar as paisagens em que nos encontramos, e não apenas com a nossa pegada física e as coisas que deixamos para trás, mas também a nível celular. Estamos afetando o mundo de uma maneira que ninguém jamais imaginou. É bom manter essas coisas em perspectiva.
Quando vocês se prepararem para a turnê novamente, como garantir que o rastro da sua banda seja sustentável?
É uma questão tão importante e é algo que estamos tentando melhorar o tempo todo. Experimentamos programas de reciclagem em locais de eventos e utilizamos combustíveis alternativos para os caminhões e ônibus que usamos para viagens. O importante é que a turnê em si é uma atividade insustentável. Então, tentamos fazer tudo o que podemos para diminuir nossa emissão de carbono através de nossa ONG, a Make Yourself Foundation. Fizemos recompras muito grandes de carbono, onde fazemos doações que plantam árvores em certas partes do mundo desmatadas, para que possamos compensar nossas turnês. Até mesmo para oferecer aos nossos fãs garrafas de água reutilizáveis. Cada pequena coisa é útil. Qualquer dia desses, descobriremos uma maneira de fazer uma turnê com zero emissão de carbono, mas ainda não chegamos lá.
Vocês estão preparando alguma música nova para a próxima turnê?
Sim, nós escrevemos nos últimos meses e lançaremos um novo single muito em breve. Estamos muito felizes com isso e é super estranho e divertido. Nós estaremos em turnê pelos EUA no outono.