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Vocalista do Incubus detona Trump 'megalomaníaco' e dedica hit ao presidente: 'EUA são melhores que ele'
Faixa 'Megalomaniac' era vista como ataque a George W. Bush e voltou aos shows da banda, que toca no Rock in Rio. Ao G1, Brandon Boyd condena letras misóginas: 'não caímos nessa'.
Por Cauê Muraro, G1
Em janeiro, Brandon Boyd participou da "Marcha das Mulheres" que reuniu milhares nos Estados Unidos em protesto contra posicionamentos sexistas do presidente Donald Trump. Orgulhoso, Boyd postou fotos no Instagram. Como odiadores estão aí mesmo é para odiar, vieram críticas. E ele respondeu com textão: "Oi, eu sou Brandon. Eu canto em um grupo de rock chamado Incubus. Já chegaram a ouvir minhas letras? Não seja um cheira peido, apenas pare de me seguir. É fácil!".
O comentário resume o estilo de combate deste artista que se diz contra letras misóginas (do rock, do pop etc.) e contra Trump. "Realmente acredito que nós não vamos longe em nosso desenvolvimento social se brigarmos uns com os outros", afirma ele em entrevista por telefone ao G1.
O presidente é um alvo preferencial deste cantor que faz o tipo galã consciente e totalmente favorável ao ato de tirar a camisa no palco. Em 2004, a banda lançou a música "Megalomaniac", que todo mundo achava ser contra o então ocupante da Casa Branca, George W. Bush. Não era exatamente, mas tudo bem. "É interessante, agora, como a história está se repetindo, e a música se tornou relevante de novo", reconhece Boyd, aos 41 anos.
O hit até voltou aos shows "na esperança de lembrar às pessoas de que podemos ser melhores do que Trump e do que a administração de merda dele". A banda, que lançou neste ano o disco "8", que tem produção do Skrillex, deve tocar a faixa no Rock in Rio, onde se apresenta no dia 23.
Surgido em 1995 fazendo algo que poderia ser enquadrado nas definições "metal alternativo", "funk metal", "rap metal" e até "nu metal" (maldade...), o Incubus é famoso pelo repertório estilão pesado misturado com algumas baladas. Nas letras, o que Boyd chama de "enfrentamentos internos". O mais recente foi uma separação (ou quase) após dez anos de relacionamento. Ele explica o caso na entrevista a seguir, que teve participação (via latidos ao fundo) de Bruce, o cachorrinho da foto acima:
G1 – Em março você postou fotos participante de uma marcha pelo direito das mulheres em Los Angeles. Qual a importância, como artista, de apoiar esse movimento?
Brandon Boyd – Sim, eu estava no centro de Los Angeles. Tinha um monte de coisa envolvida – não foi só em solidariedade ao movimento das mulheres. Também foi por oposição ao Trump, à administração dele, as ideias, as ideologia e todo o resto...
"É realmente interessante viver esta época nos Estados Unidos, porque a maioria dos americanos estão completamente horrorizados com a eleição dele [Trump], a maioria dos americanos faz total oposição às ideias dele."
A maioria das pessoas não votaram nele, mas contra. E ele ganhou por causa do sistema de colégios eleitorais. Então, foi em solidariedade aos meus irmãos e irmãs por aí. Mas também foi uma bela oportunidade para andar por Los Angeles com meus irmãos, fotografar meus amigos e testemunhar um momento em que todo mundo estava compartilhando pensamentos e ideias, sabe?
Foi uma tarde muito linda mesmo, um dia incrível. Um grande encontro, ninguém foi preso.
G1 – Você também mandou um recado a alguns seguidores que criticaram e perguntou: 'Já chegaram a ouvir minhas letras?'. Anos atrás, você já tinha falado a diferença do Incubus para outras bandas do new metal é elas têm letras misóginas e vocês não. Acha que tem a missão de lutar contra esse tipo de letra?
Brandon Boyd – Eu não diria isso necessariamente – que a missão é lutar contra essas questões. Realmente acredito que nós não vamos longe em nosso desenvolvimento social se brigarmos uns com os outros. Acho que as melhores ideias ganham. Não acho que você precise realmente brigar. Precisa apresentar ideias melhores, que no fim acabam vencendo.
Para mim, a música, a arte é um veículo tão poderoso... Porque sei, a partir de minha própria experiência, que a música me afetou muito profundamente. A música ajudou a dar forma a quem sou psicologicamente, espiritualmente, emocionalmente.
"Tem um monte de música pop que é profundamente misógina. Tem certos elementos que a cultura musical meio que aceitou. Tudo bem, mas não é realmente meu modus operandi."
Eu quero mais dos meus artistas favoritos. Quero que eles desenvolvam o modo como tendo a continuar pensando criticamente e que eles continuem seguindo adiante com essas ideias.
"Acho que somos melhores do que isso, melhores do que misoginia, sexismo (risos). Acho também que nós sabemos como não caímos nessa."
G1 – Muitas pessoas achavam que ‘Megalomaniac’ era sobre o George W. Bush, mas você já disse que ela era sobre um personagem chamado El Guapo em um filme chamado ‘Three amigos’. Era isso mesmo? E agora a música parece ter ficado relevante de novo, com o Trump...
Brandon Boyd – (Risos) Sim, sim, mas eu estava brincando quando falei aquela história do El Guapo. A música é sobre uma pessoa em específico que encontrei uma vez e que causou uma impressão negativa em mim.
A música se tornou, para muitos dos ouvintes, um libelo contra a administração Bush. É engraçado, o jeito que penso sobre música não passa por ditar às pessoas como as pessoas devem interpretaram as canções. Deixo as pessoas fazerem isso por elas mesmos.
E, depois, quando fizemos o clipe, deixamos a diretora do vídeo, Floria Sigismondi, interpretar a música – e, para ela, tinha muito a ver com George W. Bush e o regime dele. Mas é interessante, agora, como a história está se repetindo, e a música se tornou relevante de novo.
"Nós não estávamos tocando 'Megalomaniac' nos shows com tanta frequência, mas vamos tocar bastante, tenho certeza (risos). Na esperança de lembrar às pessoas de que podemos ser melhores do que Trump e do que a administração de merda dele."
G1 – É verdade que as músicas do novo disco do Incubus, ‘8’, foram influenciadas, em parte, pelo fim de uma longa relação amorosa? Foi difícil escrever as letras?
Brandon Boyd – Muito mais difícil, sim. Escrever músicas, letras e pinturas – faço essas coisas porque curto, porque elas me dão um senso de realização à minha vida. Mas porque realmente é como sei processar minhas experiências, desde que sou um garotinho.
"Na verdade, até onde posso me lembrar, escrever as coisas no papel, fazer pinturas e desenhar era porque eu tinha dificuldade explicando precisamente à minha família e aos meus amigos as coisas que estava enfrentando internamente. Foi assim que aprendi a desenhar e escrever."
Acho que a maioria das pessoas que gravitam ao redor de atividades criativas fazem isso porque querem encontrar a melhor forma de exteriorizar um processo interno. Para mim, foi assim a vida inteira. Quando estava escrevendo “8”… Não foi um término tradicional de relacionamento. Basicamente, não era uma relação tradicional.
Eu estava em uma relação romântica com minha melhor amiga por quase dez anos. Não teve a ver como o fim do amor e a separação, blábláblá, aquela velha história de sempre... Ainda amamos muito um ao outro, então meio que estamos mesmo nos desligando [no original: unholding].
Para definir com precisão o que estamos passando (risos), o termo que se usa hoje dia nos Estados Unidos Unidos – e as pessoas meio que reviram os olhos por causa dele – é “ucoupling” [aqui pode ser entendido como “seperação amigável” ou “separação consciente”].
Nós meio que deixamos de ser um casal, levou muito tempo – e aconteceu que o Incubus estava fazendo um disco enquanto aquilo tudo estava rolando. Mas ela certamente ainda é minha melhor amiga no mundo, o que é fantástico. Só não somos mais um casal.
G1 – O que você espera do show do Incubus no Rock in Rio?
Brandon Boyd – Eu estou incrivelmente animado. Na verdade, não acho que o Incubus tocou no Rock in Rio do Brasil. Nós fizemos Rock in Rio, mas não me lembro se tocamos na edição do Brasil.
G1 – Não tocaram...
Brandon Boyd – Estamos ansiosos, sei que é uma das maiores festas do Brasil (risos). Vai ser legal fazer parte disso.
G1 – O Incubus vão tocar antes de The Who e Guns N’ Roses. O que acha disso?
Brandon Boyd – Vai ser incrível. Já tocamos com The Who e Guns N’ Roses. Quando tocamos com Guns foi antes de o Slash voltar. E tocamos com The Who em um show do canal VH1 [em 2008], tinha Pearl Jam, Tenacious D...
"Foi incrível, encontrei com o Roger Daltrey [vocalista do Who], tomei vodca com ele e foi uma noite realmente boa (risos)."
Vai ser legal encontrar os caras de novo. The Who é, obviamente, um dos fundadores do rock’n’roll, sabe? É um honra tocar com eles.
G1 – O Incubus começou em 1991. Como você compara o começo da banda e sua fase atual?
Brandon Boyd – Humm. Em certo sentido, somos o mesmo grupo de garotos que adoram ficar numa sala junto e tocar realmente alto, tentando afetar os outros com nossas habilidades individuais (risos). Mas, em vários outros sentidos, não somos os mesmos, tudo mudou. Éramos adolescentes, e hoje tenho 41 anos. Parece que foi em outra vida.
Quando começamos a banda, não tínhamos nenhuma responsabilidade, era só lição de casa depois da escola, um empreguinho em um café ou coisa assim. Não tínhamos preocupação, filhos...
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