terça-feira, 24 de abril de 2018

Depoimento emocionado de Mike sobre o amigo Avicii (para Variety)

Na última sexta (20/04), morreu o DJ sueco Avicii, que como muitos sabem era amigo do Mike. Juntos compuseram o hit 'Wake me up' lançado em 2013. Durante o fim de semana, Mike conversou com a Variety e deu um depoimento emocionado sobre o amigo. Abaixo a matéria traduzida.

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Avicii lembrado pelo co-compositor de "Wake Me Up", Mike Einziger: "Ele mudou minha vida"

O guitarrista do Incubus diz que ainda está processando a morte de seu amigo.




Como um dos co-compositores do hit de Avicii, “Wake Me Up”, o guitarrista do Incubus, Mike Einziger, conhecia muito bem o DJ sueco (nome verdadeiro: Tim Bergling), que morreu na sexta-feira por causas não reveladas. Einziger diz que há várias canções inéditas que eles escreveram juntos: "Eu espero que algum dia as pessoas possam ouvir porque, para mim, são algumas das minhas peças favoritas que eu já escrevi." Einziger (na foto acima com Avicii e Nile Rodgers) falou com a Variety durante o fim de semana e recordou emocionado sua amizade com Berglinger e seu trabalho em conjunto.

Eu conheci o Tim em 2012. Tínhamos amigos em comum, especificamente (o representante de Avicii A & R) Neil Jacobson, que o estava ajudando a escolher músicos para o álbum. Eu estava ciente de quem Tim era, mas eu não estava muito familiarizado com o seu trabalho. Eu conhecia "Levels" e eu sabia que ele era realmente um jovem garoto que produziu essa música incrível e era realmente difundida na cultura pop. Eu não queria escrever música eletrônica ou algo do tipo, mas quando ouvi que Tim queria se encontrar para falar sobre música, achei que seria uma ótima oportunidade para eu ampliar o que eu estava trabalhando. Eu pensei que seria interessante ver onde estava sua cabeça.

Quando nos reunimos pela primeira vez, não fizemos nenhuma música, apenas conversamos por algumas horas. E era realmente óbvio que deveríamos escrever algo juntos. Tim estava me dizendo que queria fazer música de uma forma muito mais orgânica e ele realmente queria utilizar instrumentação ao vivo, e queria usar suas influências folk como ponto de referência. Ele ouvia  realmente música boa.

Fizemos um plano para que ele fosse até minha casa e passássemos a noite escrevendo, então ele foi - e foi aí que “Wake Me Up” aconteceu. Levou apenas algumas horas. Foi como um toque de mágica, o que é inacreditável agora, especialmente olhando para trás: a primeira vez que nos sentamos para escrever música juntos, “Wake Me Up” aconteceu.

Eu lembro que Tim me enviou uma versão bruta da música às três horas da manhã - ele continuou trabalhando, editando e fazendo pequenas mudanças - e eu toquei a música bem alto na minha casa. Foi muito especial. Daquele ponto em diante, foi tipo uma onda: eu toquei guitarra e o ajudei em um monte de outras músicas do álbum, como "Hey, Brother" e "Addicted to You". Nós nos conhecemos mais através desse processo e então escrevemos várias outras músicas juntas durante esse tempo. Eu espero que algum dia as pessoas cheguem a essas músicas porque, para mim, elas são algumas das minhas peças favoritas que já escrevi.

Com o passar do tempo, mais e mais pessoas começaram a se conectar com a música. Tornou-se esta coisa que não só conectou com pessoas ao meu redor, conectou com crianças, avós e suas as crianças. Eu não sei nem dizer quantas pessoas me disseram que seus filhos cresceram ouvindo “Wake Me Up” - famílias inteiras. Para mim, essa é a coisa mais gratificante do mundo, trazer alegria assim para as casas das pessoas. Eu nunca teria visto isso se não fosse pelo Tim, e me sinto muito sortudo, e sortudo por ter trabalhado com ele.

Nós passamos muito tempo juntos escrevendo músicas, depois disso e eu o conheci mais pessoalmente, de uma maneira muito individual e privada. Nós compartilhamos muitas conversas íntimas e profundas sobre as coisas pelas quais passamos, os desafios que enfrentamos e as muitas pressões que acompanham o tipo de sucesso que ele teve. Eu queria que ele ainda estivesse aqui.

O que mais me lembro sobre ele, é sua curiosidade infantil quando se trata de música. Isso é uma coisa que vai embora quando você fica mais velho, é uma coisa muito difícil de manter em sua vida - não apenas com música, com qualquer coisa - e ele trouxe esse sentimento infantil de admiração e curiosidade para fora de mim, no processo de composição. Foi tudo novo para ele e isso me despertou, e sou muito grato por isso. É tão fácil ficar cansado e ele estava aberto. Havia uma inocência sobre ele, desse jeito, isso é meio difícil de colocar em palavras. Ele não tinha ego em nenhuma das músicas que fizemos; ele só queria a melhor música.

O senso de produção de Tim era tão monstruoso: ele realmente sabia como queria que cada pequena sílaba soasse. Seu nível de comprometimento, não importava quanto tempo demorasse, ele se sentaria lá e gravaria o trabalho várias vezes. Eu estaria tão cansado - iria para casa e ele ainda estava preso em uma sílaba.

A última vez que o vi (foi há dois ou três meses). O Incubus tinha acabado uma turnê na Ásia, Austrália e África do Sul, e bem antes de sair eu estava no estúdio com Tim e o cantor britânico Emile Sande. Ele parecia feliz e estava feliz por estar de volta ao estúdio. Nós estávamos trabalhando em algumas músicas novas. Ele parecia que estava em um lugar bom, ele estava animado com a música.

Eu gostaria de ter estado lá para ajudá-lo. Ele era uma pessoa tão doce e tinha uma vida tão longa pela frente. Talvez eu não tenha apreciado isso tanto quanto deveria quando ele estava vivo, mas ele realmente mudou minha vida de uma forma muito profunda, como colaborador, como um parceiro criativo. Alguns dos trabalhos que fizemos juntos, são algumas das músicas de que mais me orgulho em toda a minha vida. Passamos por um período criativo juntos que foi realmente emocionante e divertido. Quando coisas assim acontecem, é como mágica e realmente raro. Para compartilhar isso com ele e apenas para ver e ser capaz de sentir o quão vibrante ele era como ser humano e também como artista, ele tinha uma visão criativa tão forte. Ele estava tão comprometido com cada coisa que ele trabalhou. E foi realmente um privilégio estar por perto e compartilhar isso com alguém tão vibrante.

Ele era tão doce e tão visionário. Ainda não consigo acreditar que ele se foi - ainda estou tentando processar isso. É horrível. Ele era um ser humano tão doce, genuíno. Ele era tão jovem. Estes são todos clichês, mas é apenas trágico. Tudo o que posso fazer é balançar a cabeça.