segunda-feira, 22 de abril de 2019

Brandon Boyd: Portas de Percepção, o Jogo




Brandon Boyd: Portas de Percepção, o Jogo
Shana Nys Dambrot

Antes de Brandon Boyd ser o vocalista do Incubus, ele era um artista. Na verdade, ele estava a caminho da CalArts quando a banda assinou um contrato. E enquanto todo mundo sabe como foi essa parte da história, é a atividade paralela de Boyd como pintor que ganhou impulso especial nos últimos anos. Com exposições individuais em Los Angeles (onde ele vive) e em todo o mundo (muitas vezes em conjunto com a agenda de shows do Incubus), além de livros, edições e, agora, um novo jogo de cartas, Boyd estabeleceu um estilo sonhador em figuras e padrões abstratos. Baseado em um fluxo orgânico e desenho intuitivo; ele chama de "OptiMystic".

Uma noite dessas, Boyd me convidou para uma noite psicodélica casual de jogo.

O novo jogo de Boyd, “Deux Portes / Two Doors”, foi inspirado pela popularidade de uma série de pinturas em andamento chamada ‘Portals’. Feitas com aquarela e tinta no papel, esses quadrados de 5 x 5 polegadas, em grande parte de 2017 e 2018, gerou um conjunto de infinias variações, da forma favorita de Boyd fazer arte - parte casual, parte descobertas atentas.

                                   




A autora e o artista jogando Deux Portes/Two Doors / Art Duet


A estética de Boyd é frequentemente comparada a um tipo de jogo em nuvem, onde os pigmentos derramados e as cores vivas existem como abstrações orgânicas, até que solte sua atenção e deixe sua mente vagar nos campos coloridos até descobrir a figura, o rosto, a flor, a torre, a montanha ou o cosmos, que universo de imagens ocultas ele provoca com a ponta de tinta de uma caneta.

No caso dos ‘Portals’, eles permanecem como abstrações, brilhantes, doces redemoinhos e espirais que lembram as janelas entre os mundos pelos quais são chamados, com passagens de padrões nítidos que ampliam a suavidade das nuvens por justaposição com gestos arquitetônicos e hipnotizantes. Imagens parecidas com Rorschach. Ao olhar para eles, você tem uma espécie de atalho para a meditação, um pouco de embaçamento em torno das bordas do pensamento profundo, como um aviso de 'confeitaria Zen'. As portas da percepção se abrem, só um pouquinho.

Boyd gosta de expor eles em grades, criando padrões dentro e entre a expansão de suas iterações exclusivas. E agora, para jogar o jogo Deux Portes, você também começa com uma grade.


EXPAND

Deux Portes/Two Doors by Brandon Boyd - Courtesy of the artist


"Você conhece o jogo do Brian Eno, Oblique Strategies?" Boyd pergunta. Eu digo que não, então pesquisei na internet e vi que em 1975, Eno e Peter Schmidt compuseram o que chamaram de "Mais de cem dilemas dignos" (Over One Hundred Worthwhile Dilemmas) e fizeram cartões. A ideia é que, se você está preso a uma ideia, você escolhe uma carta e deixa que seu estado mental aleatório leve sua consciência de volta para um lugar mais interessante. Eles continuam sendo feitos, atualmente está na quinta edição.

"Nós tínhamos no estúdio", Boyd me diz. "Você puxava um cartão e tinha algo como: 'Vá para fora. Feche a porta' ou 'Faça uma ação imprevisível, repentina e destrutiva; incorpore' ou 'Apenas continue'. Definitivamente funcionou! E isso foi uma parte da inspiração para esse jogo, com certeza."

                                              Jogando Deux Portes/Two Doors by Brandon Boyd / Shana Nys Dambrot



Boyd escolheu várias dúzias de pinturas ‘Portals’ e palavras diferentes para "porta" e fez pares. Você joga como qualquer jogo tradicional de memória, colecionando pares, trocando a vez, quem tiver a maioria dos pares ganha. Mas é muito menos mecânico do que outras versões, porque a arte é cativante, as cores vibrantes e as palavras, como prometido, promovem vôos no humor e fantasia.

Entrada, Acesso, Caminho, Olho mágico, Conexão, Porta de entrada ... Aprimorada pelas cores do trabalho, a linguagem insere idéias inesperadas na experiência, destravando memórias e associações, gratificando a atenção e a presença dentro desse momento analógico simples e a antiga idéia de uma conversa real.

"Você pode jogar sozinho também, é claro", diz Boyd. Mas, com um ou duas pessoas, cria um elo discreto e ligeiro, um oásis do momento presente que vive dentro de uma caixa de cartas.



Nosso jogo, foi na mesa da cozinha, é claro, e com um pote de alcaçuz, demorou cerca de uma hora. E funcionou como foi planejado. Seguiu-se uma conversa longa, trocadilhos, história da arte, tempo de inatividade, memórias familiares e de infância, os perigos das mídias sociais, a importância da arte e da natureza, doces regionais exóticos de todo o mundo e o apelo da atenção plena numa sociedade sob pressão.

No final, Boyd saiu vitorioso em nosso combate, mas acho que nós dois vencemos - e nosso prêmio foi uma sessão de sintonia com a hora mágica da noite, com nossos ruídos, combinando portões amarelados e interstícios de esmeraldas, o pôr do sol vermelho e o céu azul claro se tornando índigo, enquanto o resto do mundo estava correndo na sexta-feira a uma velocidade alucinante, sem tempo para jogos. Um dos cartões diz "chave" e outro, meu favorito, é "permissão".


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